Wednesday, October 26, 2011

FUNK DE PRIMEIRA: Nils Landgren e Baker Brothers

Olá!
O post de hoje consiste na rápida análise e recomendação de dois discos que descobri muito recentemente. Ambos têm raízes semelhantes – soul, funk, jazz – e acabam sendo um prolongamento natural da última publicação deste humilde blog, a playlist que explorava o meu entendimento das raízes do Jamiroquai.
Nils Landgren Funk Unit - “Funk For Life”


É o ultimo e excelente disco do cultuado trombonista sueco, e foi lançado em 2010. Nils gravou seu primeiro álbum em 1983 e já participou de inúmeros trabalhos para artistas de ABBA a Wyclef Jean, incluindo Herbie Hancock e The Crusaders (estes valem um post exclusivo).
Além de bom som, o Funk For Life é um instrumento de engajamento em favor da organização Médicos Sem Fronteiras, na qual o afilhado de Nils atua como médico. A cada álbum comprado, 1 euro é doado para a atuação da MSF em Kibera, no Quênia. Por isso os títulos das faixas frequentemente acenam para o continente africano.


O disco todo é mergulhado no funk, com momentos de menção ao acid jazz (“Mag Runs The Voodoo Down”) e anda marcado pelo trombone de Nils e pelas excelentes linhas de baixo em igual medida – o ponto alto deste duo está na melhor faixa do álbum, a instrumental “Dry”. É uma trama com muito groove sem saturação, “deslize” comum em discos tão carregados no gênero consagrado por James Brown. Para quem precisa de uma trilha sonora esperta e (felizmente) esqueceu seus CDs de chill-out em 2002, “Funk For Life” é uma excelente pedida. Vale pagar e baixar!

Baker Brothers – “Bakers Dozen”


Este disco não foi minha porta de entrada para os Baker Brothers, mas é aquele que mais achei interessante e palatável – e muito se deve à participação generosa e especial da vocalista Vanessa Freeman (que também aparece brevemente na abertura do disco “Avid Sounds”, de 2009 e é considerada “part-time member”). Vanessa já cantou também com o bom Kyoto Jazz Massive.
A competente Vanessa Freeman
No "Bakers Dozen" (título que brinca com o filme de Steve Martin e sua penca de filhos), ela quebra o transe funk dos Baker Brothers, a tal saturação mencionada no review acima e que frequentemente torna os discos do gênero um tanto maçantes. As doses de Freeman valorizam as jams instrumentais do restante do trabalho, criando espaços exclusivos e modulando as 13 faixas desse disco de 2008.
Nos momentos em que a vocalista aparece temos canções, começo meio e fim, e um bom verniz pop que remete muito ao agradável som dos ingleses do Brand New Heavies. A distribuição destes momentos no álbum é feliz, como no par “What You Do Is Right” e  “Walk Into My World”.

Caso o som tenha interessado, recomendo ainda algumas faixas do já mencionado Avid Sounds: 
- “Family Tree”, com Vanessa Freeman
- “If You Want Me To Stay”, ainda que eu prefira a tosca versão do Red Hot Chili Peppers. A original é de Sly and The Family Stone e tem um dos meus baixos favoritos de todos os tempos.
 “Street Player”. A original, do Chicago, tem mais de 9 minutos e é uma aula de como arranjar metais.  Essa vocês reconhecerão das pistas, culpa do Daft Punk.
Espero que gostem e descubram ainda mais coisas interessantes!

Monday, October 10, 2011

PLAYLIST: AS ORIGENS DO JAMIROQUAI, UMA AULA DE FUNK E SOUL


Quem me conhece sabe que tenho muito mais prazer em “descobrir” bandas velhas do que antecipar “the next big thing”, pois tenho uma grande suspeita de que tudo de relevante no espectro pop já foi feito anos atrás e que hoje (um hoje retórico) vivemos um grande reprocessamento.  Então enquanto o tempo não me prova estar errado, olho para as bandas das últimas duas décadas com os olhos de um arqueólogo ou biólogo - busco fazer o carbono-14 da coisa toda, abro o sapo para ver de onde veio tudo aquilo na esperança de encontrar alguma jóia ou vertente saborosa.
A playlist de hoje explora o que (na minha leitura) é a gênese do Jamiroquai, banda que começou muito bem com três excelentes discos até se perder em brigas internas que devastaram a formação original, conflitos quase sempre alimentados pelo monumental ego de Jay Kay. Em se tratando dessa banda, olhar para o passado e para suas raízes talvez seja o único alento, a esperança de dias melhores e de um amadurecimento mais feliz e criativo por parte do notório amante de carros e vinhos caros. A banda de hoje não tem tesão nem inspiração, se arrastando em shows mornos pelo mundo.

Jay Kay, vocalista do Jamiroquai, fazendo um esquenta para o show do Rock In Rio

Na seleção abaixo que vocês poderão ouvir ao fim do texto, trabalhei em dois pilares: a cena Acid Jazz inglesa de onde despontou o Jamiroquai e as raízes americanas de soul, RnB e funk que formam o grosso da educação musical de Jay Kay. Há muita coisa boa que merece ser explorada; eu particularmente acho que a lista ficou SENSACIONAL, mas eu sou suspeito para falar!
Acid Jazz
O Acid Jazz nasceu na Inglaterra na virada da década de 80 para 90, gênero híbrido de jazz, funk, soul e hip-hop baseado num revival de raridades destes estilos promovido por DJs como o francês Gilles Peterson – a quem é atribuída a criação do termo que batizou a cena. Gilles, figura importante da Radio 1 da BBC, inclusive criou os selos Acid Jazz e Talkin’ Loud, que foram as “powerhouses” do gênero ao lançarem bandas dentre as quais se destacam Brand New Heavies (comercialmente) e Incognito (artisticamente). Mas o primo rico dessas bandas acabou sendo o Jamiroquai, um dos poucos representantes da cena que “escapou” das mãos de Peterson e assinou com um selo menor da Sony Music para lançar seu debut de 1993 (Emergency On Planet Earth).

Gilles Peterson, o pai do Acid Jazz

Na playlist você ouvirá Corduroy, banda de ingleses fissurados em velocidade (como Jay Kay) e que inclusive gravaram uma música chamada “Ayrton Senna”. Incluí também a face mais pop do Acid Jazz (Brand New Heavies), e o gênio do estilo, Jean-Paul Maunick, líder e mentor do Incognito. Bem que Jay Kay poderia se inspirar na longevidade altamente criativa deste verdadeiro mestre do groove. Para abrir esse bloco, escolhi uma das minhas raridades favoritas: Esperanto com a “carioca” Sweet Feelings.
Gênese
Nesta segunda parte da playlist, explorei as grandes influências do Jamiroquai – algumas delas expressamente admitidas através da excelente Late Night Tales, série de coletâneas nas quais determinados artistas abrem seu baú particular de influências. Deste disco, destaquei feras como Leon Ware, produtor de discos clássicos como “I Want You” (chart topper de Marvin Gaye) e Maxwell’s Urban Hang Suite. Ware é também um grande compositor do RnB e tem uma belíssima voz que inclusive foi emprestada a um disco recente do já mencionado Incognito.
Criador e criatura

Outros artistas que incluí são o meu palpite daquilo que constitui a árvore genealógica de Jay Kay: monstros da música negra dançante como Lamont Dozier, Ramsey Lewis e o padrinho do Acid Jazz, Roy Ayers. Para mim, um dos destaques da seleção é “Summer Madness”, do Kool & The Gang, que é o claro combustível para a minha música favorita de toda a carreira do Jamiroquai - “Blow Your Mind”, do álbum de estréia. A seleção deixa claros os dois momentos preponderantes da carreira da banda inglesa, a fase “jazzy” e a fase “disco” (como na faixa que fecha a playlist, do Kleeer).
Enfim, eu poderia escrever por horas sobre cada um destes artistas, mas o que vale mesmo é você escutar, achar seus favoritos e se possível fazer paralelos entre estas faixas e a obra da banda homenageada de hoje.

Saturday, October 8, 2011

DVD Review: Heart of Gold, Neil Young (2006)

Olá jovens!
Não, o blog não morreu, só deu uma viajada por aí e voltou para a realidade muito recentemente. Esse post é um protesto ao vizinho animal que passou a tarde toda ouvindo eletrônico de péssima qualidade em volume altruísta. Meu protesto é ligar o noise cancelling e escrever sobre música DE VERDADE.
O texto de hoje é para recomendar um DVD que tem lugar de destaque em minha coleção: “Heart of Gold”, show de Neil Young no mítico Ryman Auditorium, tempo da country music em Nashville. Na verdade, o apelido mais acurado é “The Mother Church of Country Music”, dado que a casa aberta em 1892 teve seus primeiros dias embalados por música gospel.


Entre 1943 e 1974, o Ryman abrigou o Grand Ole Opry, show semanal de música country e comédia que existe desde 1925, sendo transmitido via rádio e gravado na frente do público. Este estandarte da música e cultura americanas já teve a participação de ícones do gênero como Hank Williams, Patsy Cline, Dolly Parton e o quatrocentas-vezes-platina Garth Brooks - toda essa história naturalmente contagia o Ryman Auditorium e o abençoa com um ar quase sagrado. 
The Ryman Auditorium, Nashville, TN
Por conta disso, o local do concerto passa a ser um personagem importante no filme, notadamente na canção “This Old Guitar”: a humilde música, que traz versos como “this old guitar ain’t mine to keep, it’s mine to play for a while”, fala provavelmente sobre o violão Martin ano 1951 adquirido por Neil Young e que é utilizado durante a maior parte do show. Segundos antes de iniciar a música, Young lembra que aquele mesmo instrumento esteve no Ryman há mais de 50 anos no ombro de Hank Williams, e olha para cima em clara homenagem à primeira grande estrela do country.
The Mother Church of Country Music: até os bancos do Ryman remetem a uma igreja
Este não é o único momento sagrado da noite. Aos 65 anos de idade, o cantor e compositor canadense cria uma intimista celebração da prolífica carreira que começou a construir em 1960. Apesar de não estar vivendo seus últimos dias, Young ocupa o palco com amigos músicos de longa data (incluindo Emmylou Harris) e sua esposa Pegi, e o resultado é uma reunião com personagens tão singulares e afetuosos que a coisa toda soa como uma bonita homenagem post-mortem. É emocionante, profundo, “carinhoso” – e o melhor de tudo, o homenageado ainda está (bem) vivo.
No show, Young desfila seus clássicos como “Old Man”, “Heart of Gold” e “Harvest Moon” com precisão e classe, constituindo um registro de altíssima qualidade de alguns dos momentos mais especiais do trabalho que influenciou importantes artistas como Vedder e Cobain (que inclusive citou um verso de Young em seu bilhete de suicídio).
Camisa Xadrez de Flanela: qualquer semelhança com o estilo grunge é meia coincidência

O DVD ainda traz um segundo disco com atrações especiais como mini-documentários na companhia de Neil Young e dos músicos que o acompanham no show. Há inclusive a aparição de Young (em 1971) no Johnny Cash Show, cantando “The Needle And The Damage Done” na ressaca das mortes de Joplin, Hendrix e Morrison. Mas o meu favorito é o breve clipe em que o técnico de guitarras de Young abre o baú e mostra alguns dos instrumentos mais emblemáticos do cantor, como a Les Paul 1953 com vibrato Bigsby da foto acima.
Apesar de cultuado, Neil Young tem voz, intensidade, coragem e integridade que dividem opiniões de forma cristalina. Quando se trata dele, há apenas 3 grupos de pessoas - os que amam, os que odeiam e os que nunca ouviram. Se você pertence ao primeiro ou último grupos, esse DVD é uma peça importante, ou para reforçar a devoção ou para dar uma excelente oportunidade para julgamento consciente e consistente.

Friday, August 19, 2011

Gig Review: Steel Pulse no The Canyon

Jah rastafarize!
Depois de uma pausa mais longa do que eu gostaria de tirar, volto ao agradável ofício da escrita não-poética e desprovida de qualquer peso. Explico: a ausência se deve quase que integralmente aos esforços hercúleos para criar as letras do disco que gravarei ao final deste mês. Poesia é que nem corrida, natação...o corpo sedentário pede água, chora, mas no final chega lá.
E a retomada vem através do review do show do lendário Steel Pulse, que já tocou diversas vezes aqui no Brasil (recentemente na Virada Cultural). Já eu tive o privilégio insólito de vê-los num country bar em Agoura Hills (CA) com platéia caucasiana acima dos 40. Minha transgressão de ir ao show de regata ganhou tons ainda mais rebeldes em função da amostra demográfica. Ao sair de casa eu juro que achei adequado...lembrei dos anos de Ruffles Reggae e fui pra cima.

Infelizmente ESSA não estava à venda no balcão de merch dos caras...

The Canyon, a singela casa country que recebeu essa banda de Birmingham, abriu suas portas para uma jovem banda de Huntington Beach iniciar os trabalhos. Não me lembro do nome da molecada (cada um com 18 anos na cara, no máximo), mas seu esforço foi reconhecido pela paternal platéia, que deve ter achado aquilo bonitinho e familiar. E aí veio ao palco o quinteto fundamental do reggae.
Essa é pra galera do artesanato que ACHA que tem dreadlocks!

Steel Pulsefoi formado no meio da década de 70 na Inglaterra e só conseguiu agendar shows a partir do momento que o punk engajado de bandas como The Clash se tornou a bola da vez. Com sua própria agenda política, o Steel Pulse angariou bom público abrindo shows para o grupo de Strummer e Simonon, The Police e os jamaicanos do Burning Spear. Um ponto curioso do início da carreira do Pulse é o fato de que, para suportar a temática das letras, a banda fazia seus primeiros shows fantasiada de alguns arquétipos da sociedade britânica (como aristocratas e vigários). Fez todo sentido para uma banda cujo primeiro single para a gravadora Island se chamava “Ku Klux Klan”. Da vasta biografia dos caras, eu preciso destacar também o fato de que o Steel Pulse foi a primeira e única banda de reggae a tocar numa festa de posse de um presidente americano. Adivinha se o presidente não era aquele que “fumou mas não tragou”...
Pelo menos eles tiveram bom senso de tocar na posse de um democrata...
Enfim, o show do The Canyon mostrou que tem horas em que a experiência fala alto: os caras fizeram um ótimo show de ponta a ponta, com carisma e precisão. Mesmo eu, que sou um fã bastante específico de reggae (como dissecado em meu post sobre as vertentes do gênero), me rendi ao som dos caras e justifiquei a regata com todo o meu vasto repertório de raggamoves. Mas nada comparável ao suingue do Bell Marques rasta – Amlak Tafari rasgava o ar com seu baixo-planador mostrando muito peso e suingue.

No plano musical, os destaques não poderiam deixar de ser a pesadona Leggo Beast e o clássico Steppin’ Out. Abaixo, Steppin' Out em show de 2005 no Credicard Hall (ovacionados), Leggo Beast em áudio original e um trecho do show no The Canyon:







Por mais que o reggae seja musicalmente menos inventivo ou sofisticado do que outros gêneros, entendo que há muita coisa além de Bob Marley, coisa bastante boa e que fica ainda mais interessante ao vivo, quando o baixo bate na boca do estômago. Quem quiser explorar mais do gênero pode começar com Steel Pulse e resgatar minha playlist de vertentes do reggae, que publiquei aqui há algum tempo.

Keep it positive!

Sunday, July 31, 2011

Gig Review: Rooney no El Rey Theatre


Olá meus caros,
Depois de uma longa ausência, retomo os trabalhos deste blog. A vida tripla (trabalho, disco, blog) é agradável mas não fácil do ponto de vista de gestão de tempo.
Bem, o post de hoje é sobre o show que vi em 24 de junho no El Rey Theatre:

O El Rey por si só já merece algumas palavras. Trata-se de uma casa art-déco da década de 30 que iniciou suas operações como um cinema (sua fachada até hoje remete à função original) e foi sede de uma boate no início dos anos 90. Desde 1994 funciona como uma casa de espetáculos com personalidade, charme antigo e que proporciona excelente proximidade ao palco.

A chegada à porta da casa assustou pelo público que formava a fila: pré-adolescentes, alguns bravamente  acompanhados de seus pais, sugeriam que aquilo de fato ainda era um cinema e a sequência de alguma saga de vampiros contra lobisomens iria começar em breve. Dado que Rooney não é exatamente nenhuma novidade e sua carreira jamais chegou a decolar, aquilo fazia pouco sentido.
Eis que havia uma banda de abertura que parecia explicar um pouco daquela amostra demográfica. Ou melhor, segundo seu site, o Maniac é mais que uma simples banda, é um “projeto”. Pelo que vi, aquilo pode ser projeto de qualquer coisa, menos de banda. Uma dupla que já passou dos trinta, com um figurino “Russell Brand meets jovem caçador de vampiros” (provavelmente daí a identificação com o público teen), fez uma performance sofrível em termos musicais e cômicos. Não que eles quisessem de fato transformar aquilo num espetáculo de stand up comedy, mas as intervenções do vocalista principal eram um exercício malsucedido de carisma, com tons absolutamente infantis. Para resumir bem o martírio que foi assistir ao Maniac, me senti num sarau de ginásio quando aquela dupla que se acha engraçada leva suas peripécias para o palco. Takes one to know one: já fui uma dessas duplas!
Findo esse show de horror, subiu ao palco Rooney com seus 5 integrantes e 12 anos de vida. Essa banda de LA, que teve um pico de popularidade alavancado pela série The OC, lançou seu 3º LP no ano passado pelo selo California Dreamin’ depois de alguns anos de parceria com a Geffen.
Robert Coppola Schwartzman

A exemplo do Hellogoodbye, que já foi resenhado aqui recentemente, o Rooney também tem carreira pouco prolífica, sugerindo que o bem nascido galã Robert Coppola Schwartzman tem muito com o que se ocupar na ensolarada Los Angeles. São 3 LPs e um EP até hoje, com discreto êxito comercial apesar do competente pop rock feito pelo grupo. O som rico em refrões pop perfeitos, pegajosos e salpicado por boas harmonias vocais acena para a tradição californiana fundada pelos Beach Boys e para o be-a-bá (ou obladi oblada) dos Beatles.

O show de mais de uma hora de duração se dividiu entre faixas dos 3 LPs e mostrou uma banda muito competente no palco. Som de alta qualidade, carisma e presença de palco por parte de Robert e muito ego por parte do guitarrista Taylor Locke, que aposta no ar blasé e já teve seus enroscos com a atriz Mischa Barton - a ponta em The OC foi boa em diversos sentidos. O único um pouco fora de sintonia foi o baterista Ned Brower, que se arrisca nos vocais em uma faixa, visivelmente encorajado por sua ponta como vocal no EP Wild One (ele canta a faixa título com um timbre interessante). Em algumas faixas senti que a mão estava leve demais, faltou pegada para o cara. 
Taylor "Eu Me Amo" Locke

Mas talvez o ponto alto da noite, pelo menos para mim, tenha vindo da participação surpresa e mais do que especial de Brian Bell, guitarrista do Weezer – quem vos escreve já voou até Curitiba no meio de uma tarde de sábado para ver a banda e voltou em plena madrugada depois de ter a sorte de tirar fotos com toda a banda no aeroporto. Brian tocou apenas uma música, “Woman” de John Lennon, também uma das minhas favoritas de todos os tempos. Mas foi o suficiente.
Bell com Rooney tocando "Woman"

Terminado este belo show, ao esperar a casa (e o último copo) se esvaziar, tive a oportunidade de conversar um pouco com Brian Bell e com Robert Schwartzman, duas figuras bastante simpáticas.

Mais uma vez com Brian Bell

Para quem se interessou em conferir o som do Rooney, recomendo o segundo disco, “Calling The World”, de onde vem a faixa “Where Did Your Heart Go Missing”.


Abraços e até a próxima!

Wednesday, July 20, 2011

Novos Sons: O Black Dub de Daniel Lanois

Lanois e sua pupila Trixie Whitley 

Depois de dias finais caóticos na gloriosa LA, estou de volta ao Brasil e ao ofício da escrita recreativa. Hoje é para contar sobre o show da relativamente nova Black Dub, que aconteceu na casa The Music Box em Hollywood no dia 28 de maio de 2011.
Confesso que fui para o espectáculo sem sequer ter ouvido uma música desta banda formada por Trixie Whitley, Brian Blade, Daryl Johnson e o genial Daniel Lanois, sendo este último ogrande motivo da minha presença.
Lanois é o talentosíssimo produtor cartel pesado que inclui Neil Young, Willie Nelson, Peter Gabriel, U2 e Bob Dylan – com estes dois artistas, Lanois ganhou Grammy de melhor álbum do ano em 87 e 97 respectivamente. Esse canadense de 59 anos também gravou mais de 10 discos próprios dentre os quais destaco o excelente “Shine”, de 2003, um disco que sintetiza bem algumas das marcas estéticas registradas de Lanois – ambientação marcante, espaços amplos e excelente bom gosto no uso do reverb. Apesar de ter iniciado suas produções para o U2 como braço direito de Brian Eno, é fácil acreditar que Lanois tem muita culpa no cartório em relação a uma das guitarras mais inconfundíveis da história da música popular...

Pois bem, Lanois juntou gente da melhor qualidade nessa nova empreitada, o Black Dub, que lançou disco homônimo no ano passado. E com base quase integral nesse trabalho, a banda subiu ao palco do pitoresco The Music Box e seus afrescos perturbadores. Um clima barroco que encaixou perfeitamente com o “opening act”, o visceral Rocco DeLuca.
As luzes começam completamente apagadas até que sobe ao palco o dono de um dos nomes mais traiçoeiros que a música já viu. Esse nome que poderia fazer companhia a Stefano Di Monaco ou Enrico Caruso numa coleção de discos é na verdade um personagem pronto para qualquer road movie de qualidade. “Gasto” como um fracassado do meio-oeste americano, DeLuca vaga pelo breu até acender uma luminária à meia altura do pedestal do microfone, emitindo uma luz aparentemente tão fraca quanto seu amo. Mas não demora até os dois se provarem suficientes.
Com um dobro ligado a diversos pedais, DeLuca se apresenta sozinho e arrebata a todos com a intensidade de sua música e letras, alternando delicadeza e aridez quase inadvertidamente. O clima beira a loucura em alguns momentos nessa performance que, de tão singular e inesperada, me impediu de ouvir novamente estas canções fora de contexto.

Alguns minutos depois, já com o fôlego recobrado, recebi com aplausos o Black Dub e levei pouco tempo para concluir que os dias de Nina Persson como loira mais linda da música popular se acabaram. A incansável multiinstrumentista Trixie Whitley já valeu o ingresso sem sequer cantar a primeira nota. E quando o fez, revelou uma potência paradoxal a sua delicada figura, cantando com um soul muitas vezes exagerado – depois conferi o disco e nele a cantora soube controlar melhor sua força (nada como ter o velho Lanois ao lado para garantir o take certo). Inclusive, Lanois a aconselha durante o show, como um velho mestre que ainda não tem certeza sobre seu último pupilo.


Mas o grande destaque da apresentação é o baterista Brian Blade, que logo transparece seu background como músico de estúdio de lendas como Wayne Shorter e Herb Hancock. Blade é absurdamente técnico, inventivo e intenso, sendo um dos bateristas que mais me impressionou ao vivo. Levadas diferentes, viradas criativas e geniais – um show à parte.
E orquestrando talentos mais e menos crus, lá estava Lanois com sua Les Paul devidamente anabolizada por um delay que é marca registrada, cantando as excelentes músicas dessa empreitada que mistura funk, dub, blues e outros elementos da raiz da música americana. Vale conferir o disco para escutar algo diferente, fresco e de qualidade.




Thursday, July 7, 2011

Playlist: O Que Era Indie nos Anos 80?

A playlist está bem ao final do post, dê play e comece a leitura!


Dois suéters e uma corrente por cima da gola rolê: nada como justificar o nome da banda!
Alô você!
(recentemente revi a clássica entrada do Vannutttthzzi após a final da Copa de 2006 e resolvi fazer uma pequena homenagem ao rei das bolachas mal comidas e dos medicamentos mal misturados).
Embora ainda tenha uma “pá” (estou nostálgico, pelo visto) de resenhas de show para publicar aqui, resolvi dar uma quebrada no ritmo e emplacar uma nova playlist. E aproveitando que a cabeça está em épocas passadas, o post de hoje irá explorar o bom synth pop dos anos 80 e começo dos 90. Digo o “bom synth pop” porque o abuso (malsucedido) desse instrumento é talvez a principal tônica da criação musical da “década perdida” da música. Ou seja, coisa boa com synth está mais para a exceção do que para regra desse período.
E dado que o “indie” ou “alternativo” dos anos 2000 bebe muito na fonte oitenteira e, consequentemente, em estripolias com Moogs, 808s e bichinhos mais avançados como Nords e Fantoms, é interessante tentar achar algumas das prováveis fontes de inspiração de artistas como Empire of The Sun, Passion Pit e MGMT. Dá inclusive para fazer o paralelo e chamar os artistas que mostrarei aqui de “indie” da década de 80 – artistas com boas músicas pop, mas que (intencionalmente ou não) ficavam nas “sidelines” de monstros como Michael Jackson e Madonna. Vamos a eles!
- China Crisis: banda inglesa formada em 1979 em Kirkby, cidade próxima a Liverpool, pelo vocalista/tecladista Gary Daly e o guitarrista Eddie Lundon. Flertando com new wave e post-punk, China Crisis teve sucesso moderado na Inglaterra chegando eventualmente ao top 10 do país com alguns de seus singles e álbums. Na playlist de hoje, incluí algumas músicas do álbum Flaunt The Imperfection, produzido pela outra metade do excelente Steely Dan, Walter Becker. O disco foi muito bem recebido pela crítica e chegou ao número 9 da parada britânica no ano de 1985. É inevitável associar esse som ao que o Empire of The Sun faz hoje em dia, sem entrar no mérito de julgar quem é melhor.
"Possible Pop Songs" além de ser um ótimo substítulo diz muito...
- Aztec Camera: banda de Glasgow, formada em 1980 por Roddy Frame, o único membro constante ao longo dos anos e através das inúmeras mudanças no time. Em 81 a banda figurou numa compilação do tipo “hot bands to hear now” da conceituada NME e anos depois chegou a bater #3 na parada britânica com “Somewhere In My Heart” do álbum “Love”, mas eu particularmente prefiro o single imediatamente anterior a esse, “The Crying Scene”, com seu refrão brilhante e pegajoso (que não passou da 70ª posição na parada britânica).


- Prefab Sprout: disputa com a próxima banda o posto de minha favorita da década de 80. Segundo o Guinness Book of British Hit Singles & Albums, o gênio Paddy McAloon concebeu o nome ao ouvir imprecisamente o verso “we got married in a fever, hotter than a PREFAB sprout” do clássico “Jackson”, imortalizado por Johnny Cash. Verdade ou não, o nome não faz nenhum sentido e o fato é que o pobre McAloon atualmente sofre não só de problemas de audição como de visão também.
Apesar do sucesso modesto na Inglaterra natal e quase inexistente na colônia transatlântica, Prefab Sprout sempre foi aclamado pela crítica e chegou a ter participações especiais de peso como Stevie Wonder e Pete Townshend (no álbum From Langley Park to Memphis) em seus trabalhos. Dentro de 12 álbuns entre materiais inéditos, compilações e edições especiais, fica bastante difícil pinçar poucas músicas boas. Espero que as que inclui nessa sucinta playlist sejam apenas a porta de entrada para o trabalho dos caras.
Paddy McAloon no "hey day": uma versão bastante talentosa do Boça
- Style Council: como disse, disparado uma das minhas favoritas. Entre 83 e 89, foi o grande projeto musical do “Modfather” Paul Weller, que é tido por muitos como um dos maiores compositores britânicos de todos os tempos. Antes do Style Council, Weller foi a cabeça do The Jam, uma das maiores potências do punk/pós-punk inglês que influenciou virtualmente qualquer artista popular britânico desde então. Versátil e apaixonado por música (e eventualmente backing vocal) negra, Paul Weller mudou de direção criativa para este projeto e criou um caldeirão musical bastante temperado por groove, devidamente auxiliado pelo talentoso tecladista Mick Talbot. O comentário sobre a backing vocal se deve ao casamento entre Weller e sua backing vocal Dee C. Lee. Eu poderia falar por horas desse cara, que sozinho merece um post inteiro aqui...espero que gostem e explorem todas as fases da ainda (muito bem) ativa carreira do Modfather!
E para fechar, incluí como bônus o “sucesso” “Souvenir” da OMD (Orchestral Manoeuvres in the Dark), da qual conheço muito pouco para escrever a respeito (Wikipedia na cabeça).
Até a próxima!

Thursday, June 30, 2011

Gig Review: Hellogoodbye @ Alex's Bar (Long Beach, CA)


Caros amigos, inicio aqui o review de mais um show que fui conferir aqui na California. A bola da vez é Hellogoodbye, camaradas de Huntington Beach que fazem um bom e divertido pop em preguiçosa carreira.
Antes de falar no show em si, vale um breve contexto sobre a banda formada em 2001 pelo bem humorado hipster Forrest Kline e seu então colega de escola Jesse Kurvink.
Forrest Kline, cansado de justificar porque você deve comprar um iPad.
Depois de gravarem algumas faixas em casa e tocarem erraticamente na noite do sul da California, assinaram com o selo pop-punk Drive Thru Records (2003) e lançaram um EP homônimo um ano depois. O primeiro LP (“Zombies! Aliens! Vampires! Dinosaurs!”) só saiu em 2006 muito em função do grande foco em turnês. Nesse interim, a banda perdeu alguns membros que provavelmente precisavam garantir algumas contas pagas em casa e o casamento com a Drive Thru azedou. Em 2010, já com seu próprio selo, Kline e sua reformada trupe lançaram “Would It Kill You”.
Pois bem, essa é a banda que decidi ver numa noite de sábado em Long Beach, no pitoresco Alex’s Bar:
Alex's Bar, Long Beach
Mas não antes de curtir uma maratona de artistas novos. Acabou me lembrando dos primeiros shows que fiz com minha última banda...noites em que o Outs da Rua Augusta fechava com 5 ou 6 bandas na mesma noite para garantir casa cheia, em verdadeiras maratonas de uma massa sonora disforme e que iam madrugada adentro. Enfim, avaliar bandas desconhecidas é um exercício bacana, sem viés, então vale o investimento aqui. Força, pessoal - PS: clicando no nome de cada banda você vai ao Myspace dela.
Tem rótulos musicais que me divertem. Um deles é “math rock”, que é uma vertente de rock experimental com ritmos e tempos mais quebrados, pra mim coisa de músico cabeçudo (sem crítica aqui). Enfim, é o que fazia essa primeira banda. Linhas de bateria complexas que até certo ponto justificaram a brilhante (rá) idéia de iluminar as peças da bateria por dentro:
Batera Indiglo by Timex
Outros dois pontos me chamaram a atenção no som dos caras. O primeiro foi a semelhança com o excelente disco “Come Pick Me Up”, do Superchunk, em particular “Hello Hawk”:
Superchunk - "Hello Hawk"
Outro ponto interessante foi o uso inteligente do “bumbo reto” nas linhas de bateria, cuja banalização é um dos meus grandes “poréns” em relação ao que se chama de indie rock hoje em dia. A fórmula do bumbo-chimbau dance-disco é um truque tão manjado de “tira o pé do chão” que, por melhor que a música possa ser, me desanima demais. Tem cheiro de preguiça.
Gostei menos, falarei menos – senão o review fica infinito. Dupla garoto-garota com o cara num violão distorcido (para isso existem as semi-acústicas, meu caro) e voz e a menina no baixo, basicamente “looking good up there”. No começo as músicas pareceram boas e fiquei curioso para ouvi-las com uma banda de apoio, até que a coisa toda começou a ficar “confessional” demais e nosso bravo vocalista se transformou num chorão me amolando com seus traumas. Sorry, não é minha pegada. Sim, você tinha que acordar cedo e tirar a neve da entrada da garagem com uma pá, foda-se. O Calvin também tinha. Era só cheirar éter e ver tigre voar.
- Banda 3: saí pra comer um hambúrguer vagabundo com uns mexicanos.
Caceta, aí eu acordei! Não agüentava mais esperar a atração principal, então a surpresa foi muito bem vinda. Power trio de rock n roll com um vocarisma (Travis Shettel, ou “TS”) sensacional, excelente em presença de palco e inteligentíssimo nas linhas de guitarra. Ao final do show, falei com o cara buscando o disco (única banda sem vender merch no show) e soube que só há um EP disponível no iTunes por enquanto. Já baixei e não faz justiça ao show, pois faltam músicas ótimas que eles tocaram no Alex’s Bar, mas vale conferir de perto o que os caras vão aprontar.
E enfim.....Hellogoodbye!
O bar era pequeno e a essa altura tínhamos apenas “amigos e outras bandas” (segundo Kline) assistindo ao quinteto de HB. De acordo com o vocalista (que tem um pé no stand-up), “se você não tocou aqui hoje, considere-se um amigo...você só não sabe que é ainda”. E nesse clima familiar que mais uma vez me lembrou dos shows que eu fazia, curti muito de perto um set improvisado na hora e recheado de interações engraçadas entre a banda e seus embriagados amigos californianos. Quem sofreu com tanta informalidade foi o guitarrista Michael Nielsen, que tinha que alternar ukelele, mandolim e sua Gretsch numa velocidade inconveniente.
Como não poderia deixar de ser, a banda tocou músicas de seus dois LPs com um som bastante redondo apesar do clima relaxado da ocasião, a única nota negativa ficando por conta do vocal de Forrest Kline que não conseguiu reproduzir o tom doce que se ouve nos discos. O último disco, mais enxuto nos arranjos, acabou favorecendo a performance ao vivo, enquanto que comparativamente as músicas do álbum de estréia perderam um pouco do brilho.
Apesar da qualidade medíocre que um celular pode permitir e o som ter estourado completamente no mic, segue abaixo um trecho do show.
“When We First Met”

Apesar da maratona, cabou sendo uma ótima noite musical naquele canto de Long Beach!
Até o próximo post.


Sunday, June 26, 2011

Positive: As Vertentes do Bom Reggae


Positively estou numa fase reggae, woo yeh. Poucas semanas depois de me mudar para a California, o mosquito ragga me mordeu e mergulhei de cabeça no estilo para o qual eu costumava torcer meu grande nariz. Sou um fã de ska, já vi Toasters, tenho meus discos do Hepcat mas achava o filhote do gênero um porre – cabem em uma mão as músicas do Bob que realmente aprecio.
Pois bem, contagiado pelas quantidades industriais de maconha consumidas diariamente ao redor do meu prédio em Venice Beach, pesquisei o reggae e fui entender que na realidade existem três gêneros dentro de um. Explico:
1)    Reggae “Fumei pra cacete, bati um lero com Jah e agora vejo muita coisa errada no mundo. Vou cagar regra e dar esporro na galera pra ver se melhora”.

É, é o reggae religiosocabeçudopuritano. Criançada se esquecendo dos ensinamentos de Jah, mulheres usando esmalte, uma pitada de direitos civis e por aí vai. Acaba sendo um tapa com luva de pelica, porque o esporro vem com a levada macia do reggae. Vejam só o exemplo da sensacional “Hail The Word of Jah”, dos jamaicanos do The Congos. Faixa de primeiríssima qualidade, produzida pelo lendário Lee “Scratch” Perry. A letra está no link abaixo do vídeo para você acompanhar...


Ouça também:  “Chatty Chatty Mouth” do The Gladiators.
2)    Reggae “Pesadão”.

Minha segunda “vertente” favorite de reggae. Frequentemente o Pandora joga algumas pedradas no meu colo, músicas que tem uma linha de baixo estupidamente pesada, muitas vezes alavancada por uma bateria bem tocada e bem gravada. O ícone inglês do reggae Steel Pulse tem uma bela cozinha, na qual se destaca Ronald McQueen, e por conta disso várias de suas músicas entram nessa distinta categoria. Selecionei  “Leggo Beast” como exemplo.

Com esse baita som, o Steel Pulse já faturou um Grammy (Melhor Disco de Reggae) em 1986 com o disco Babylon The Bandit, curiosamente sem McQueen no baixo.
Ouça também: “Righteous Dub”, do Long Beach Dub All Stars.
3)    Reggae Romance, também conhecido como RR.
Não tem como não abrir um sorriso ao escrever deste que é disparado o melhor tipo de reggae. Quem me conhece sabe o quanto eu sou um cara romântico, um quase Wando, então obviamente o lado mais suave do reggae é aquele que mais me atrai. Essa vertente traz os melhores vocais, as melhores harmonias e alguns dos arranjos mais interessantes do reggae. Para mim, os dois monstros sagrados do RR são Barry Biggs e Ken Boothe, que teve a manha de fazer uma versão de “Let’s Get It On” adicionando um “children” no meio do refrão. É amor para dar e vender!
Na verdade, tem tanta coisa boa no mundo do RR que criei a playlist abaixo para vocês. Em breve vocês verão outras em variados temas aqui no site.



Enjoy!

Thursday, June 23, 2011

KROQ Weenie Roast Review - Pt. II - Main Stage


Depois desse show, hora do main event no anfiteatro. Começamos com os veteranos do Face to Face, que de cara já mostraram maior sintonia com o público do que as atrações anteriores. Foram seguidos pela banda A Day to Remember, que ao contrário do nome, é facilmente esquecível. São um tipo de NX Zero da Florida, ou seja, muito sentimento, muita emoção e condução no crash em 70% da música – não gostei. Vejam vocês mesmos:



Até aí, tínhamos guitarras pesadas o suficiente para o público acordar e derrubar suas cervejas com empolgação – não acho que o fã de Face to Face suporte A Day to Remember, mas as coisas de certo modo faziam sentido. Eis que o palco principal tem novo surto de coachellite e traz (felizmente) Cage The Elephant.

Essa banda havia sido um caso de expectativas frustradas quando os vi no já mencionado festival de Indio em abril deste ano. As músicas eram bem interessantes, especialmente a do link abaixo, e o show prometia. No entanto, nosso querido clone de Evan Dando, Matthew Shultz, quis encarnar Cobain e fazer o show doidão dentro de um vestido:




E de novo, homenagem ou não, essa pegada “rock star” transgressor não cola para mim depois que o negão tacou fogo na guitarra depois de gimbá-la. Ou seja, o show de Coachella não justificou as boas expectativas que criei.

Nesta vez, no entanto, talvez por ser um show mais low profile, um mero showzinho de rádio com uma audiência menos cool e/ou formadora de opinião, o camarada posou menos e entregou mais. Show redondo, com boas músicas, boa pegada e boa presença de Shultz sem ser over ou forçado. Fez sua maluquice aqui e ali, deu mosh, cantou no meio da galera, mas foi algo mais natural e autêntico. Belo show!

Destaque para a incrível camiseta fuleira em homenagem à (então) recém-anunciada aposentadoria do ídolo Shaq.

Até mesmo quem não entendeu muito aquilo se animou e ficou no ponto para a atração seguinte, o veterano Bad Religion, que tocou em casa. Tocando seus vários clássicos, a banda contou com a esporádica e emblemática participação de uma lenda viva do hardcore, Brett Gurewitz. O guitarrista, que já entrou e saiu da banda algumas vezes e hoje só sobe ao palco em ocasiões especiais ou geograficamente favoráveis, é o dono da “powehouse” do punk e hardcore americanos, Epitaph e já produziu discos para Rancid, NOFX e Pennywise. Ou seja, Mr. Gurewitz foi certamente uma das 10 pessoas mais importantes da minha vida entre os 14 e 18 anos de idade!

Mr. Gurewitz

Greg Graffin e seu Bad Religion fizeram um ótimo show em vários aspectos: som, carisma e maturidade. É uma banda que sabe a idade que tem e não se dá à síndrome de Peter Pan, no que é ajudada pela qualidade e inteligência por trás das letras de suas canções.

Terminado o show, foi a hora do palco girar mais uma vez. Aliás, vale a pausa para dizer que nem tudo no Weenie Roast foi desorganizado – cada banda tinha 45 minutos de performance, e isso foi respeitado à risca. Todos os shows começaram quase sem nenhum atraso, e o palco duplo permitia que uma banda estivesse pronta enquanto a outra terminava o set. A idéia não é nova (foi tentada de forma miserável no primeiro Woodstock) e funcionou bem.

Enfim, novo surto de coachellite e The Strokes surgiu do backstage – foi a única banda que não estava do outro lado do palco na hora que a roda girou, o que foi um baita flashback da Porta da Esperança do Senor Abravanel. A banda “mais cool do planeta”, de acordo com o ego do Casablancas Filho, fez um belo som e só, resultado de boas músicas e músicos. Mas é isso, um casamento falido. Naquele palco estavam caras que claramente não têm mais química (se é que o tiveram um dia) e que mal se olham. Até mesmo o humor cáustico e etílico de Julian Casablancas estava murcho (ao contrário de seu excelente “stand-up” no deserto de Indio em abril deste ano). Ainda assim, ele nos deu algo: “normalmente esses showzinhos de rádio são um saco, mas esse está legal”, lacônicoirônico.

E bem, ao final desta performance, me levantei e deixei o Verizon Amphitheater ouvindo ao fundo a gritaria do Rise Against. Dias depois fui saber que perdi um show surpresa (e aparentemente excelente) do Foo Fighters, o que foi uma tremenda pena. Segue o que foi minha música favorita deles nessa aparição surpresa: