Monday, October 10, 2011

PLAYLIST: AS ORIGENS DO JAMIROQUAI, UMA AULA DE FUNK E SOUL


Quem me conhece sabe que tenho muito mais prazer em “descobrir” bandas velhas do que antecipar “the next big thing”, pois tenho uma grande suspeita de que tudo de relevante no espectro pop já foi feito anos atrás e que hoje (um hoje retórico) vivemos um grande reprocessamento.  Então enquanto o tempo não me prova estar errado, olho para as bandas das últimas duas décadas com os olhos de um arqueólogo ou biólogo - busco fazer o carbono-14 da coisa toda, abro o sapo para ver de onde veio tudo aquilo na esperança de encontrar alguma jóia ou vertente saborosa.
A playlist de hoje explora o que (na minha leitura) é a gênese do Jamiroquai, banda que começou muito bem com três excelentes discos até se perder em brigas internas que devastaram a formação original, conflitos quase sempre alimentados pelo monumental ego de Jay Kay. Em se tratando dessa banda, olhar para o passado e para suas raízes talvez seja o único alento, a esperança de dias melhores e de um amadurecimento mais feliz e criativo por parte do notório amante de carros e vinhos caros. A banda de hoje não tem tesão nem inspiração, se arrastando em shows mornos pelo mundo.

Jay Kay, vocalista do Jamiroquai, fazendo um esquenta para o show do Rock In Rio

Na seleção abaixo que vocês poderão ouvir ao fim do texto, trabalhei em dois pilares: a cena Acid Jazz inglesa de onde despontou o Jamiroquai e as raízes americanas de soul, RnB e funk que formam o grosso da educação musical de Jay Kay. Há muita coisa boa que merece ser explorada; eu particularmente acho que a lista ficou SENSACIONAL, mas eu sou suspeito para falar!
Acid Jazz
O Acid Jazz nasceu na Inglaterra na virada da década de 80 para 90, gênero híbrido de jazz, funk, soul e hip-hop baseado num revival de raridades destes estilos promovido por DJs como o francês Gilles Peterson – a quem é atribuída a criação do termo que batizou a cena. Gilles, figura importante da Radio 1 da BBC, inclusive criou os selos Acid Jazz e Talkin’ Loud, que foram as “powerhouses” do gênero ao lançarem bandas dentre as quais se destacam Brand New Heavies (comercialmente) e Incognito (artisticamente). Mas o primo rico dessas bandas acabou sendo o Jamiroquai, um dos poucos representantes da cena que “escapou” das mãos de Peterson e assinou com um selo menor da Sony Music para lançar seu debut de 1993 (Emergency On Planet Earth).

Gilles Peterson, o pai do Acid Jazz

Na playlist você ouvirá Corduroy, banda de ingleses fissurados em velocidade (como Jay Kay) e que inclusive gravaram uma música chamada “Ayrton Senna”. Incluí também a face mais pop do Acid Jazz (Brand New Heavies), e o gênio do estilo, Jean-Paul Maunick, líder e mentor do Incognito. Bem que Jay Kay poderia se inspirar na longevidade altamente criativa deste verdadeiro mestre do groove. Para abrir esse bloco, escolhi uma das minhas raridades favoritas: Esperanto com a “carioca” Sweet Feelings.
Gênese
Nesta segunda parte da playlist, explorei as grandes influências do Jamiroquai – algumas delas expressamente admitidas através da excelente Late Night Tales, série de coletâneas nas quais determinados artistas abrem seu baú particular de influências. Deste disco, destaquei feras como Leon Ware, produtor de discos clássicos como “I Want You” (chart topper de Marvin Gaye) e Maxwell’s Urban Hang Suite. Ware é também um grande compositor do RnB e tem uma belíssima voz que inclusive foi emprestada a um disco recente do já mencionado Incognito.
Criador e criatura

Outros artistas que incluí são o meu palpite daquilo que constitui a árvore genealógica de Jay Kay: monstros da música negra dançante como Lamont Dozier, Ramsey Lewis e o padrinho do Acid Jazz, Roy Ayers. Para mim, um dos destaques da seleção é “Summer Madness”, do Kool & The Gang, que é o claro combustível para a minha música favorita de toda a carreira do Jamiroquai - “Blow Your Mind”, do álbum de estréia. A seleção deixa claros os dois momentos preponderantes da carreira da banda inglesa, a fase “jazzy” e a fase “disco” (como na faixa que fecha a playlist, do Kleeer).
Enfim, eu poderia escrever por horas sobre cada um destes artistas, mas o que vale mesmo é você escutar, achar seus favoritos e se possível fazer paralelos entre estas faixas e a obra da banda homenageada de hoje.

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