Wednesday, July 20, 2011

Novos Sons: O Black Dub de Daniel Lanois

Lanois e sua pupila Trixie Whitley 

Depois de dias finais caóticos na gloriosa LA, estou de volta ao Brasil e ao ofício da escrita recreativa. Hoje é para contar sobre o show da relativamente nova Black Dub, que aconteceu na casa The Music Box em Hollywood no dia 28 de maio de 2011.
Confesso que fui para o espectáculo sem sequer ter ouvido uma música desta banda formada por Trixie Whitley, Brian Blade, Daryl Johnson e o genial Daniel Lanois, sendo este último ogrande motivo da minha presença.
Lanois é o talentosíssimo produtor cartel pesado que inclui Neil Young, Willie Nelson, Peter Gabriel, U2 e Bob Dylan – com estes dois artistas, Lanois ganhou Grammy de melhor álbum do ano em 87 e 97 respectivamente. Esse canadense de 59 anos também gravou mais de 10 discos próprios dentre os quais destaco o excelente “Shine”, de 2003, um disco que sintetiza bem algumas das marcas estéticas registradas de Lanois – ambientação marcante, espaços amplos e excelente bom gosto no uso do reverb. Apesar de ter iniciado suas produções para o U2 como braço direito de Brian Eno, é fácil acreditar que Lanois tem muita culpa no cartório em relação a uma das guitarras mais inconfundíveis da história da música popular...

Pois bem, Lanois juntou gente da melhor qualidade nessa nova empreitada, o Black Dub, que lançou disco homônimo no ano passado. E com base quase integral nesse trabalho, a banda subiu ao palco do pitoresco The Music Box e seus afrescos perturbadores. Um clima barroco que encaixou perfeitamente com o “opening act”, o visceral Rocco DeLuca.
As luzes começam completamente apagadas até que sobe ao palco o dono de um dos nomes mais traiçoeiros que a música já viu. Esse nome que poderia fazer companhia a Stefano Di Monaco ou Enrico Caruso numa coleção de discos é na verdade um personagem pronto para qualquer road movie de qualidade. “Gasto” como um fracassado do meio-oeste americano, DeLuca vaga pelo breu até acender uma luminária à meia altura do pedestal do microfone, emitindo uma luz aparentemente tão fraca quanto seu amo. Mas não demora até os dois se provarem suficientes.
Com um dobro ligado a diversos pedais, DeLuca se apresenta sozinho e arrebata a todos com a intensidade de sua música e letras, alternando delicadeza e aridez quase inadvertidamente. O clima beira a loucura em alguns momentos nessa performance que, de tão singular e inesperada, me impediu de ouvir novamente estas canções fora de contexto.

Alguns minutos depois, já com o fôlego recobrado, recebi com aplausos o Black Dub e levei pouco tempo para concluir que os dias de Nina Persson como loira mais linda da música popular se acabaram. A incansável multiinstrumentista Trixie Whitley já valeu o ingresso sem sequer cantar a primeira nota. E quando o fez, revelou uma potência paradoxal a sua delicada figura, cantando com um soul muitas vezes exagerado – depois conferi o disco e nele a cantora soube controlar melhor sua força (nada como ter o velho Lanois ao lado para garantir o take certo). Inclusive, Lanois a aconselha durante o show, como um velho mestre que ainda não tem certeza sobre seu último pupilo.


Mas o grande destaque da apresentação é o baterista Brian Blade, que logo transparece seu background como músico de estúdio de lendas como Wayne Shorter e Herb Hancock. Blade é absurdamente técnico, inventivo e intenso, sendo um dos bateristas que mais me impressionou ao vivo. Levadas diferentes, viradas criativas e geniais – um show à parte.
E orquestrando talentos mais e menos crus, lá estava Lanois com sua Les Paul devidamente anabolizada por um delay que é marca registrada, cantando as excelentes músicas dessa empreitada que mistura funk, dub, blues e outros elementos da raiz da música americana. Vale conferir o disco para escutar algo diferente, fresco e de qualidade.




No comments:

Post a Comment